Fortaleza, 07 de julho de 2025.
No
último dia 05 de julho de 2025, na Biblioteca do Centro Cultural Banco
Nordeste, situado no centro da cidade, realizamos mais um encontro do nosso
grupo de leituras, o Quilombo Literário.
Três
colegas participaram do encontro, conforme aparece na foto.
A
obra trabalhada foi “Canção para Ninar Menino Grande”, da autora Conceição
Evaristo.
Inicialmente
vão anotações que havia feito para comentar durante o encontro. Nem todas foram
apresentadas, pois outros colegas também as apresentaram.
Fio
Jasmim é o elo que liga as várias histórias das mulheres. É através dele que
conhecemos os desejos das mulheres, seus sonhos, seus corpos, suas escolhas.
Fio
é fruto do machismo e do racismo que perpassa a sociedade. No passado, uma
professora, nos primeiros anos de escola, não o escolheu como príncipe para
representar a peça a Cinderela e o Príncipe. Ela escolheu um menino loiro.
Nasce aí os primeiros sentimentos de preterimento racial de Fio.
Fio
recebe do pai e dos maquinistas mais velhos exemplos de como tratar as
mulheres.
Fio
é casado com Pérola Maria e os dois têm nove filhos.
Capa do livro trabalhado |
No
início do livro, Juventina e a narradora conversam sobre amores. Juventina
cantava “Canção para ninar menino grande” para aliviar a dor do peito, [pág
12]. Tina foi o grande amor extraconjugal de Fio Jasmim.
Conhecemos a Pérola Maria, esposa de Fio Jasmim, apenas pelas falas da Tina ou das outras mulheres. Não há na obra a própria Pérola falando. Isso nos levou a pensar na personagem Capitu, do livro “Dom Casmurro”, onde também não se tem a versão dessa personagem sobre o adultério narrado naquela obra.
As mulheres que Fio se envolveu:
Pérola Maria: a esposa oficial. Ignora o caráter do marido. Sempre o perdoa.
Neide Paranhos: queria
ter um filho, mas não pediu que Fio fosse o pai.
Angelina: se matou,
porque Fio não quis se casar.
Aurora: banhava-se no
rio, depois que conheceu Fio banhava-se em sua lábia.
Dolores: enganada por
ele. Teve filhas gêmeas.
Dalva Ruiva: além dos
filhos que já tinha, teve mais três com Fio.
Eleonora: a única que
Fio não tentou namorar. Ela era lésbica.
Tina: o relacionamento durou 35 anos. Era independente. Além do romance, nada mais aconteceu entre eles.
Algumas ideias tiradas a partir da leitura do livro:
Dolores afirmava que os
gêmeos eram filhos de Fio [pág 15].
Dalva Ruiva afirmava
que as crianças brincavam juntas com as de Pérola Maria [pág 16].
Dolores foi a única que
transformou amor em ódio
Neide Paranhos, a do
Vale das Laranjeiras, não quis continuar estudando, não quis sair da cidade,
preferiu ficar ao lado dos pais.
A Família Paranhos era
a única de negros no meio de muitas famílias brancas, todas donas de terras.
Neide teve um filho com
Fio, mas Fio não sabia direito [pág 29].
A vergonha do pai ao
saber que Neide teve um filho [pág 28].
Angelina era enfermeira
[pág 30]. Com 33 anos sonhava que o príncipe encantado iria chegar [pág 30], e
quando Fio chegou na cidade achou que esse era o príncipe. Iniciou como
faxineira no hospital, depois estudou e cresceu [fez diferente da Neide
Paranhos]. Se envolveu de tal forma no sonho do príncipe encantado que, quando
Fio foi embora, morreu de desgosto.
Até a pág 38, nota-se
que Fio, um maquinista jovem, chega em pequenas cidades e fica dois ou três
dias e, neste período, se envolve rapidamente com alguma moça, e logo segue
viagem, abandonando algum coração partido.
As moças reagem de
formas diferentes. Umas morrem de amor [pág 37], outras transformam completamente
a sua vida calma e pacata e a da família, caso da Neide Paranhos], que criou
sozinha o filho [pág 29].
![]() |
Formação do Quilombo Literário atualmente |
Ao que parece, Fio vai
passando pelas cidades e se aproveitando da confiança das moças, destruindo
vidas, sonhos e esperanças.
Fio fez muitos filhos,
mas não foi pai de nenhum [nem dos seus em casa].
O livro seria um ensaio
sobre a riqueza da afetividade feminina ou da pobreza da afetividade masculina?
Eleonora faz com que Fio
encontre [reconheça] suas próprias dores e entenda que dores e sentimentos
também afetam homens e não só as mulheres.
Para Tina, os homens “não
passavam de meninos grandes, que viviam agarrados às saias das mulheres em
busca de proteção”.
Tina une as mulheres do
romance, tornando-as cúmplices e testemunhas das histórias de amor, felizes ou
infelizes.
Conversando com
Eleonora, mulher lésbica, que Fio percebe os sofrimentos dos outros e os seus
próprios.
Fio, em Minas Gerias, é
a contração de filho.
Ao que parece, no
último parágrafo, a autora também é uma das mulheres de Fio, “pois a canção é
minha também”, termina Conceição Evaristo.