segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Apresentação no XI Congresso Internacional Artefatos da Cultura Negra


Os Coordenadores do Quilombo Literário, no dia 02de outubro de 2020, apresentaram as atividades do Quilombo em seminário virtual ocorrido na URCA [Universidade Regional do Cariri - CE]. Seguem as apresentações: Primeiro falou o Coordenador, Paulo Rodrigues; na sequência, o Vice Coordenador, Paulo Garcia.


XI Congresso Internacional Artefatos da cultura negra

Experiências de um Quilombo Literário em Fortaleza/CE: Literatura negra, narrativas e afetos

Obrigado a todos e todas por participarem da nossa apresentação.

Somos um grupo de leituras. O nome do grupo é Quilombo Literário.

Sou Paulo Rodrigues, coordenador do grupo, e Paulo Garcia é o vice coordenador.

O Quilombo Literário é formado por professores, estudantes e por pessoas de todas as outras profissões. Enviamos convite para cerca de 25 pessoas, mas efetivamente comparecem cerca de 8 pessoas por encontro. A única exigência é que se interessem pela questão negra.

A dinâmica do grupo é a de conversa de roda, onde todos podem falar sobre as impressões que tiveram ao ler a obra indicada. Não há um ponto de vista mais correto que outro. Partimos do princípio de que sempre podemos aprender alguma coisa com os outros.

Nossos encontros são semestrais. Sempre aos sábados à tarde. Para participar do grupo é preciso receber convite formal da coordenação.

O Quilombo Literário tem a pretensão de estimular o gosto pela leitura de autores negros, além de dar subsídios para que seus integrantes melhorem sua capacidade de apresentar ideias sobre este tema para os públicos onde atuam. Também estimulá-los a que escrevam textos para publicação em todas as mídias disponíveis.

Nosso primeiro encontro foi em junho de 2018, trabalhando a obra do Lázaro Ramos “Na Minha Pele”.

Depois trabalhamos as seguintes obras:

Em 15 de dezembro de 2018 – “Olhos D’Água”, da Conceição Evaristo;

Em 25 de maio de 2019 – “Eu Sei Por Que o Pássaro canta na Gaiola”, da Maya Angelou;

Em 19 de outubro de 2019 – “Não Vou Mais Lavar os Pratos”, da Cristiane Sobral.

Já fizemos quatro encontros presenciais, onde tivemos muitas trocas de informações e a chance de compartilhar narrativas de memórias de infância, ou de algum outro fato acontecido em algum momento da vida. Este é um espaço onde negros se encontram pessoalmente para conversarem, a partir da leitura do livro, sobre assuntos que em outros espaços não permeia livremente a questão negra. Também é um lugar onde amizades são expandidas.

A pandemia da Covid-19 fez com adiássemos o quinto encontro, que estava previsto para abril deste ano, onde trabalharíamos a obra “Um Defeito de Cor”, da autora Ana Maria Gonçalves. Indicamos para leitura para o segundo semestre, “O Olho Mais Azul” da autora Toni Morrison.

Convidamos a todos e todas que nos acompanhem pelo nosso blog: http://quilomboliterario.blogspot.com

Obrigado!

A Coordenação do

Quilombo Literário




















É importante destacar que as vivências no Quilombo Literário têm permitido a emersão de narrativas que muitas vezes são atravessadas por questões inseridas no campo das relações étnico-raciais e que evidenciam os impactos e as consequências do racismo no cotidiano dos seus integrantes. Para além das situações dolorosas, o Quilombo literário também se configura como um espaço que privilegia a troca e o fortalecimento de afetos.

Por fim, gostaria de finalizar a minha fala e estimular algumas reflexões com um poema de Cristiane Sobral, do livro Não vou mais lavar os pratos. O poema se chama Faveiros:

Quiseram transformar a favela num campo de
concentração
Num genocídio eletrizado pelo choro das mães
Numa opera do desespero

Quiseram exterminar essa gente de pele preta
Que continua resistindo
Subindo e descendo o morro

Gente valente que já cruzou tantos mares
Que calça as sandálias da valentia
Pisa as serpentes do mundo mau

Quiseram acabar com o descanso dessa gente
Que segue olhando a vista da cidade maravilhosa
Enxerga de um ponto privilegiado, esbanja outro
tipo de visão

Quiseram transformar a favela num campo de
concentração
Conseguiram uma concentração de beleza, de coragem, de
coragem
Um povo que vira a cara pro rancor e segue adiante

Quiseram transformar a favela num campo de
concentração
Em vão
É melhor dar do que receber.

4 comentários:

Verare disse...

Parabéns pela apresentação dessa experiência fantástica do Quilombo literário no XI Congresso "Artefatos da Cultura Negra ".👏🏿👏🏿👏🏿

Fernanda Maria disse...

Parabéns! Ver essas fotos, imagens é recordar os encontros presenciais, um espaço mesmo de fortalecimento, de trocas e aprendizados.

quilombo literario disse...

Obrigado, Fernanda, por ler nosso texto!

As imagens foram escolhidas justamente para relembrar e marcar nossas trocas. Trocas que ao longo dos tempos foram negadas, escamoteadas e, muitas vezes, apagadas.
Mas houve um momento, nos debates da nossa apresentação, em que o mediador,professor Tulio, dizia da importância de um grupo como o nosso: esse grupo vem para resgatar aquilo que o colonizador impediu que muitos negros fizessem: o ato da leitura e da escrita e posterior troca dentro do grupo!
Obrigado pela leitura do nosso texto!

quilombo literario disse...

Obrigado, Vera, pela leitura do nosso texto!
Nosso trabalho chamou a atenção por ser o único com temática fora da academia. O mediador, professor Tulio, ficou encantado que, apesar dos tempos difíceis que se vive na educação, há coisas interessantes acontecendo fora e dentro da academia. E o nosso trabalho chamou a atenção por trazer o hábito da leitura para dentro de um grupo, e essa leitura não se prende à análise profunda do pensamento do autor, mas carrega, além do autor, as vivências de cada participante do grupo. "Gostei", disse o mediador!
Obrigado por ler o nosso texto!