Sobre o encontro em que
analisamos o livro “Na Minha Pele”.
Muito se trabalhou para montar
o grupo Quilombo Literário. Por duas vezes, em cerca de três anos, chegou-se a
escolher livro e convidar pessoas. Porém, nas duas vezes, não apareceu nenhum dos
convidados no dia marcado. Mudou-se a estratégia: suspendeu-se tudo e passou-se
a esperar, conversar individualmente com pessoas para tentar viabilizar a
ideia. Em janeiro deste ano, retomou-se uma conversa interrompida há anos com o
colega Paulo Garcia e acertamos as bases para tentar formar o grupo de leituras
com ênfase em autores negros.
No dizer das pessoas que
participaram do nosso primeiro encontro, em 09 de junho de 2018, o evento foi
muito bom. Pessoas disseram que gostaram de se reunir com outras pessoas negras,
e ainda mais se for para falar sobre a questão negra, tão bem abordada pelo
autor que escolhemos para trabalhar em nosso primeiro encontro.
A obra analisada |
Convidamos cerca de quinze pessoas
para o primeiro encontro e oito pessoas compareceram e uma mandou texto por
e-mail sobre suas impressões da obra que seria trabalhada. Esta pessoa que
mandou o material mora em São Paulo, então já iniciamos o grupo com uma grande
inovação: o fato de ter alguém distante e com interesse em participar da
atividade. Aqui também apareceu uma de nossas fragilidades: o local que
conseguimos para nos reunir não tinha infraestrutura tecnológica para fazer
transmissão por internet. Por isso, optamos por garantir a participação dela
por texto escrito.
As várias fotos postadas no
blog oficial do grupo e nas diversas mídias existentes mostram como conseguimos
organizar o encontro na sala ampla de que dispúnhamos: várias cadeiras
dispostas em forma de círculo; tecidos com estampas africanas dispostos no
chão; mesa com água, sucos e bolos; boa iluminação e ventilação.
Inicialmente, a Coordenação falou
de alguns dos objetivos do grupo, já que a íntegra deles se encontra no blog do
grupo. Uma ideia que não está no blog, mas que a Coordenação apresentou foi o desejo
de que, a partir deste grupo de leituras, outros grupos de leituras comecem a
se formar, de modo que em breve se tenham outros tantos grupos, em vários
bairros de diversas cidades, discutindo obras de autores negros. E todos eles
registrando suas atividades em meios eletrônicos para acesso de pessoas de diversos
lugares.
Na sequência, a Coordenação,
na pessoa de seu coordenador, apresentou uma rápida análise da capa do livro,
dizendo que a metade do rosto do autor esperava pela metade do rosto do leitor,
de modo a formar um todo de histórias. Na sequência, alguém disse que a capa do
livro era política, pois posicionava um corpo negro com a intenção de vender o
livro. A partir daí, também se falou que, em geral, revistas não expõem corpos
negros em suas capas porque se acredita que não vendam, ou vendam pouco. Ainda
o coordenador falou da forma elegante e simples com que o autor falou de temas
complexos, o que tornou a leitura gostosa.
Cada um dos participantes foi
se revezando nas análises e observações feitas durante a leitura do livro. Muitas
vezes, quando alguém analisava observações feitas pelo autor sobre algum dos
temas contidos no livro, era possível que se saísse do livro e se fizesse
alguma conexão com situação vivida na vida real por alguém. Foi assim quando se
analisou a parte em que o autor fala das varias empregadas domésticas que ele teve
em sua família: mãe, tias, primas. Nesse momento, o grupo se deu conta de quase
todos os participantes também tiveram vários parentes que tinham a mesma profissão:
empregada doméstica. Aqui se falou das humilhações que estas profissionais
sofrem nos ambientes em que exercem suas atividades, e das limitações que
sofrem quanto a horários de trabalho, dias de folga, e abusos de toda ordem.
Algumas vezes, devido aos
temas profundos que o autor desenvolvia, alguns participantes lembravam de
passagens doloridas de suas vidas particulares e as narravam para os demais.
Este é um momento em que se pode dizer que a obra entrou em conexão com o
leitor, fazendo aflorar situações que estavam guardadas!
Pouco antes do término do
encontro, a Coordenação perguntou se havia algum tema que alguém gostaria de
falar, pois estávamos quase no fim. Alguns disseram, sem mais tempo para
desenvolver ideias, que não se poderia deixar de falar na parte em que o autor
fala na criação de filhos, nas preocupações dele em como criar filhos negros
numa sociedade racista; nas formas de promover a auto estima.
Ao final, parece que todos gostaram
do evento. Mais tarde, quando vieram as fotografias do encontro, e foram
compartilhadas pela rede social, muitas pessoas comentaram alegremente tudo que
tínhamos conseguido produzir. Esperamos ter lançado a semente de um grupo, que possa
se fortalecer para entender e enfrentar as diversas situações que o racismo nos
apresenta!
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