Paulo Rodrigues
Livro: O Avesso da
Pele
Autor: Jefferson
Tenório
Editora: Companhia
das Letras
Livro a ser trabalhado no encontro de 21 de maio de 2022, no Quilombo Literário.
Resumiria o livro como uma espécie de conversa / (re)encontro com o pai do narrador. São narradas histórias de namoradas, amigos, professores, salas de aulas. É a reconstrução de uma história de vida perdida, porque o narrador não viveu muito com o pai durante a vida.
Essa reconstrução dos elos entre os dois acontece após a morte trágica do pai em uma abordagem policial. Na pág 176 / 177, é narrada essa abordagem.
É uma história sobre racismos. De como corpos negros sobrevivem em uma sociedade racista. Para mostrar isso, o autor apresenta várias situações do dia a dia dos personagens. Em muitas situações, são trazidos à discussão temas cotidianos de racismo que muitas vezes, na realidade, não percebemos como tal.
Na pág. 181 /182, se pergunta “como é ser sempre julgada pela cor da pele?” A personagem responde, entre outras coisas, “que a gente se acostuma com tudo; .... quando caminha na rua e as pessoas recolhem as bolsas...; .... quando os próprios homens preferem as negras mais claras, e a gente se acostuma a ficar só ....; .... a ir para entrevistas de emprego e fingir que não percebeu a cara de desapontamento do entrevistador...”.
Muitas
dessas percepções de viver em uma pele negra são tratadas em outros personagens
no livro.
Na pág 20 / 21, se fala da quebra da autoestima, quando Bruno Fragoso, empregador, diz que “... não gosto de negros ..., porque um caseiro me roubou”. O personagem negro fica tão surpreso com a declaração de Bruno, que não reage. O racismo é assim: joga [põe] as pessoas negras em nocaute, deixando-as acuadas ante a situação de racismo.
Na
pág 25, se fala do drama de muitas mães, que não dormem direito, pois “...
passava a noite inteira acordada esperando o filho chegar”. A mãe dizia “Porto
Alegre está ficando muito violenta”.
Na
pág. 28, o pai do narrador e Suellen – 2ª namorada branca – são o único casal
interracial na faculdade e passam a ser motivo de comentários nos corredores.
[você preto e ela branca, diziam!].
Ainda
na pág 28, com Juliana – 1ª namorada branca do pai – caminhando pela rua da
Praia, ouviam piadas quando passavam de mãos dadas pelas calçadas, mas vocês
chegaram a achar “que o racismo não tinha nada a ver com o amor”.
Na
pág 29 / 36, depois que o pai conhece o Profº Oliveira Silveira, começa a tomar
consciência da existência do racismo. O professor Oliveira falava sobre vários
autores e ativistas negros.
De tanto falar com Juliana sobre os ensinamentos do profº Oliveira, ela passa a se sentir mal com esses assuntos e o namoro começa a definhar. Ela começa a achar que ele não quer mais ir aos almoços de domingo com a família dela, porque não gostou dos parentes, mas era pelas piadas racistas durante o almoço, e por tudo que aprendeu nas aulas com o profº Oliveira Silveira.
Na
pág. 46 / 47, sobre abandono de filhos. É quando Henrique, pai do narrador, se
separa da família. Aqui, até a pág. 50, se discute as idas e vindas do
casamento. [... pág. 47, o casamento é como um jogo de frescobol, onde o
importante é não deixar a peteca cair].
Na pág. 76 /77, onde se fala que o Movimento Negro não ajuda; nessa cidade – Porto Alegre – que é a mais racista do país, em casos que parecem cotidianos, quando são problemas estruturais: “... o MN nos coloca no mesmo balaio. Ser homem negro é muito diferente de ser mulher negra”
A
constatação, pág 77, de que há poucos negros no cinema / teatro não leva a
nada, dizia a mãe do narrador para Henrique. “... o filme não fica melhor se
houver mais pessoas negras aqui”.
Esses
pontos de vista divergentes entre o casal iam fazendo o casamento definhar.
Tudo devido às aulas do Profº Oliveira Silveira.
Na
pág. 129 / 132, narra problemas na escola. Reuniões de pais e mestres. “... os
pais sempre têm problemas que geralmente não têm nada a ver com a situação do
filho na escola ...”; “... a precariedade da escola venceu, e você estava
cansado...”.
São
situações em que o autor discute os problemas das escolas, e como o professor,
por ter que trabalhar em mais de uma escola, se torna um operário, e suas
expectativas são soterradas.
Na
pág. 164, ao entrar na sala de aula, Henrique observa que um grupo de alunos
dizia “... fulano matou não sei quem e agora sicrano vai mandar bala no fulano
...”.
Henrique percebe que a maioria dos alunos era composta por negros, e ele o único professor negro. Henrique percebe que deveria ser exemplo para os alunos. E começa a apresentar aulas sobre obra de autores. “Crime e castigo” do Dostoiévski é a primeira obra apresentada, e traz bom interesse entre os alunos. Boas discussões! Traz também um novo ânimo a Henrique, que estava meio desanimado com as aulas. Tudo isso vinha salvando Henrique do abismo!
Caminhando
pela rua, na pág. 176 / 177, pensava em novos autores para apresentar aos
alunos [Kafka, Cervantes, James Baldwin, Virginia Woolf, Toni Morrison], nem
percebe a aproximação da viatura policial pedindo para que encoste no muro. E,
depois da abordagem policial, mais um negro é morto acidentalmente.
O
livro traz muitos temas sobre racismo para aprofundar!
2 comentários:
O Quilombo Literário tem sido um espaço de (re)existência com profícua discussões, aprendizados, trocas e gratas alegrias . A leitura do Avesso da Pele e seus desdobramentos no encontro, na retomada presencial permitiu o que Jeferson Tenório nos diz nessa obra: "...mesmo que haja um mundo nefasto ao seu redor, é preciso ser honesto com seus afetos."(p.86). Sigamos para os próximos encontros do quilombo literário.
Obrigado, Fernanda, pelo comentário e por ler nossa postagem!
Acreditamos que o livro do Jeferson foi uma boa indicação para a retomada presencial de nossos encontros.
Um dos nossos objetivos é o aprendizado constante sobre a obra e o pensamento dos autores negros.
Obrigado por escrever ao nosso blog!
A Coordenação do
Quilombo Literário
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