domingo, 22 de maio de 2022

Fotos do último encontro "O Avesso da Pele" - 22mai22


Paulo Rodrigues

Seguem algumas fotos do último encontro do Quilombo Literário, onde analisamos a obra "O Avesso da Pele" do autor Jefferson Tenório.

Consideramos o encontro bastante produtivo, onde houve bastantes contribuições sobre a obra. 
Conseguimos encaminhar o recadastramento e atualização dos membros do grupo.

Muitos colegas acharam a obra bastante impactante, alguns chegaram a achá-la meio triste, tamanha a sua realidade com o vivido pelas pessoas negras nos seus cotidianos. 

Houve, ainda, os que acharam que a obra é o retrato da vida, pois expôs o racismo em muitas das suas entranhas. 

Segundo análise apresentada, a obra em estudo pode ser espécie de alter ego do autor. 

Em algumas situações, o narrador poderia apresentar mais elementos sobre o recorte apresentado do racismo. Alguns chegaram a falar em 'mostra e esconde' sobre o mesmo fato. 

Verificou-se também que esta é a visão apresentada pelo narrador sobre os fatos acontecidos. Chegou-se a comparar com outro livro já estudado pelo grupo, "O Torto Arado", onde havia vários narradores, e isso permitia que o leitor tivesse vários enfoques sobre os temas narrados. 

Chegou-se a chamar a obra "Dom Casmurro", clássico da literatura mundial, para também anotar que ali a visão apresentada é a do narrador Bentinho. São narrativas apresentadas, não significa ser a única que possa existir.

Muitas vezes, o assunto resvala para temas paralelos, mas não menos interessantes.
Falou-se da desativação de bibliotecas nas escolas públicas. Isso traz, segundo análises dentro do grupo, o aumento de pessoas desaminadas, falta de criatividade, chegando, muitas vezes, ao aumento de suicídios na população. São os reflexos de quando os governos encolhem e apertam os orçamentos, chegando ao ponto de acabarem com as bibliotecas nas escolas. 

Bibliotecas são a possibilidade de pequenos alunos se enfronharem no mundo do imaginário, viverem em mundos paralelos, aprendendo a cultivar a imaginação, coisa que vai ajudar na sua formação.

Assim foi o nosso encontro! 

Resgato um texto que foi publicado logo no início da criação de nosso grupo, que bem retrata a importância da leitura e das bibliotecas. 

Foi postado em maio de 2015. Segue o texto.

"Estivemos pensando outro dia nas inúmeras pessoas que tentam difundir o hábito da leitura em suas comunidades. Muitas vezes, ocupando um pedacinho do quarto ou da garagem para disponibilizar seus poucos livros aos futuros leitores. Num processo de despertar da leitura, nos perguntamos o que seria mais importante: o ambiente, os livros, o acesso ao local,  ou o prédio. Tudo isso é importante, mas percebemos que há pessoas que incentivam a leitura com bibliotecas ambulantes dentro de sacolas. Então, concluímos que o leitor é o elo mais importante num processo de incentivo à leitura. É ele que irá se encantar com os livros e, assim, incentivar que o projeto dê passos maiores. Para meninos e meninas pobres, a leitura ainda é a melhor forma de viajarem, imaginar a história que estão lendo. Investir em bibliotecas, mesmo que ambulantes, é dar uma chance ao desenvolvimento sadio de jovens, possibilitando que se pense menos em construir presídios no futuro. Ler boas obras é ajudar o cérebro a criar conexões, desenvolvendo-o. Ler é se adaptar a olhar os fatos por outros ângulos, é expandir o vocabulário e a capacidade de escrita, é melhorar a dicção e a oratória. Foi pensando em tudo isso que resolvemos lançar o Quilombo Literário, uma espécie de grupo de leituras, que pretende estimular a leitura de autores que reflitam sobre a questão negra. Como nas bibliotecas, acreditamos que é o envolvimento das pessoas que fará com que a ideia de um Quilombo Literário prospere. Através das leituras e posteriores reflexões sobre as obras lidas, o Quilombo Literário pretende estimular a leitura de autores negros, melhorar a capacidade de interpretação e discussão de ideias, e aprimorar a escrita de textos voltados à questão negra". 

Comissão Organizadora do 
Quilombo Literário


Capa do livro analisado em 21mai22


Análise de trechos do livro

Aguardando a vez para comentar

Troca de impressões

Lendo apontamentos 

Hora da merenda

Momento de descontração


Expondo ideias


Momento final dos estudos

Momento final dos estudos 2



 

Recadastramento dos colegas do Quilombo Literario - 22mai22

 

Fortaleza, 22 de maio de 2022.

 

Caros colegas,

Boa tarde,

 

Ontem, tivemos nosso encontro para trabalharmos o livro “O Avesso da Pele”, do autor Jefferson Tenório.

Foi um momento bastante prazeroso, onde se pôde discutir várias ideias, e aprendermos uns com os outros.

Também decidimos fazer um recadastramento dos colegas que participam do grupo. Para isso, decidimos criar um grupo no WhatsApp para tornarmos nossa comunicação mais rápida e eficiente.

Então, solicitamos a todos os colegas que desejam continuar participando do grupo, recebendo convites para os próximos encontros, comentando postagens diversas sobre negritude, que enviem para esse email [] o seu número de WhatsApp.

 Aqueles colegas que não enviarem, entenderemos que desejam sair do grupo.

Quanto aos colegas que estão fora de Fortaleza, caso queiram participar das discussões, podem enviar o número de WhatsApp também. Porém, ainda não temos como garantir a participação nos encontros presenciais, que é quando discutiremos algum livro ou filme indicado para análise.

  

Atenciosamente,

  

A Coordenação do

Quilombo Literário

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Primeiros comentários sobre o livro "O Avesso da Pele" - 20mai22

 Paulo Rodrigues

Livro: O Avesso da Pele

Autor: Jefferson Tenório

Editora: Companhia das Letras


Livro a ser trabalhado no encontro de 21 de maio de 2022, no Quilombo Literário.


Resumiria o livro como uma espécie de conversa / (re)encontro com o pai do narrador. São narradas histórias de namoradas, amigos, professores, salas de aulas. É a reconstrução de uma história de vida perdida, porque o narrador não viveu muito com o pai durante a vida.


Essa reconstrução dos elos entre os dois acontece após a morte trágica do pai em uma abordagem policial. Na pág 176 / 177, é narrada essa abordagem.

 

É uma história sobre racismos. De como corpos negros sobrevivem em uma sociedade racista. Para mostrar isso, o autor apresenta várias situações do dia a dia dos personagens. Em muitas situações, são trazidos à discussão temas cotidianos de racismo que muitas vezes, na realidade, não percebemos como tal.

 

Na pág. 181 /182, se pergunta “como é ser sempre julgada pela cor da pele?” A personagem responde, entre outras coisas, “que a gente se acostuma com tudo; .... quando caminha na rua e as pessoas recolhem as bolsas...; .... quando os próprios homens preferem as negras mais claras, e a gente se acostuma a ficar só ....; .... a ir para entrevistas de emprego e fingir que não percebeu a cara de desapontamento do entrevistador...”.

 

Muitas dessas percepções de viver em uma pele negra são tratadas em outros personagens no livro.

 

Na pág 20 / 21, se fala da quebra da autoestima, quando Bruno Fragoso, empregador, diz que “... não gosto de negros ..., porque um caseiro me roubou”. O personagem negro fica tão surpreso com a declaração de Bruno, que não reage. O racismo é assim: joga [põe] as pessoas negras em nocaute, deixando-as acuadas ante a situação de racismo.

 

Na pág 25, se fala do drama de muitas mães, que não dormem direito, pois “... passava a noite inteira acordada esperando o filho chegar”. A mãe dizia “Porto Alegre está ficando muito violenta”.

 

Na pág. 28, o pai do narrador e Suellen – 2ª namorada branca – são o único casal interracial na faculdade e passam a ser motivo de comentários nos corredores. [você preto e ela branca, diziam!].

 

Ainda na pág 28, com Juliana – 1ª namorada branca do pai – caminhando pela rua da Praia, ouviam piadas quando passavam de mãos dadas pelas calçadas, mas vocês chegaram a achar “que o racismo não tinha nada a ver com o amor”.

 

Na pág 29 / 36, depois que o pai conhece o Profº Oliveira Silveira, começa a tomar consciência da existência do racismo. O professor Oliveira falava sobre vários autores e ativistas negros.

 

De tanto falar com Juliana sobre os ensinamentos do profº Oliveira, ela passa a se sentir mal com esses assuntos e o namoro começa a definhar. Ela começa a achar que ele não quer mais ir aos almoços de domingo com a família dela, porque não gostou dos parentes, mas era pelas piadas racistas durante o almoço, e por tudo que aprendeu nas aulas com o profº Oliveira Silveira.

 

Na pág. 46 / 47, sobre abandono de filhos. É quando Henrique, pai do narrador, se separa da família. Aqui, até a pág. 50, se discute as idas e vindas do casamento. [... pág. 47, o casamento é como um jogo de frescobol, onde o importante é não deixar a peteca cair].

 

Na pág. 76 /77, onde se fala que o Movimento Negro não ajuda; nessa cidade – Porto Alegre – que é a mais racista do país, em casos que parecem cotidianos, quando são problemas estruturais: “... o MN nos coloca no mesmo balaio. Ser homem negro é muito diferente de ser mulher negra”

 

A constatação, pág 77, de que há poucos negros no cinema / teatro não leva a nada, dizia a mãe do narrador para Henrique. “... o filme não fica melhor se houver mais pessoas negras aqui”.

 

Esses pontos de vista divergentes entre o casal iam fazendo o casamento definhar. Tudo devido às aulas do Profº Oliveira Silveira.

 

Na pág. 129 / 132, narra problemas na escola. Reuniões de pais e mestres. “... os pais sempre têm problemas que geralmente não têm nada a ver com a situação do filho na escola ...”; “... a precariedade da escola venceu, e você estava cansado...”.

 

São situações em que o autor discute os problemas das escolas, e como o professor, por ter que trabalhar em mais de uma escola, se torna um operário, e suas expectativas são soterradas.

 

Na pág. 164, ao entrar na sala de aula, Henrique observa que um grupo de alunos dizia “... fulano matou não sei quem e agora sicrano vai mandar bala no fulano ...”.

 

Henrique percebe que a maioria dos alunos era composta por negros, e ele o único professor negro. Henrique percebe que deveria ser exemplo para os alunos. E começa a apresentar aulas sobre obra de autores. “Crime e castigo” do Dostoiévski é a primeira obra apresentada, e traz bom interesse entre os alunos. Boas discussões! Traz também um novo ânimo a Henrique, que estava meio desanimado com as aulas. Tudo isso vinha salvando Henrique do abismo!

 

Caminhando pela rua, na pág. 176 / 177, pensava em novos autores para apresentar aos alunos [Kafka, Cervantes, James Baldwin, Virginia Woolf, Toni Morrison], nem percebe a aproximação da viatura policial pedindo para que encoste no muro. E, depois da abordagem policial, mais um negro é morto acidentalmente.

 

O livro traz muitos temas sobre racismo para aprofundar!